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Psicodiagnóstico

Psicodiagnóstico
Definição
Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso. Caracterizamos o psicodiagnóstico como um processo científico, porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou infirmadas através de passos predeterminados e com objetivos precisos. Tal processo é limitado no tempo, baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliação e, portanto, uma estimativa do tempo necessário (número aproximado de sessões de exame). O plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los. Pressupõe-se, naturalmente, que o psicólogo saiba que instrumentos são eficazes quanto a requisitos metodológicos. Portanto, a questão, aqui, é o quanto certos instrumentos podem ser eficientes, se aplicados com um propósito específico, para fornecer respostas a determinadas perguntas ou testar certas hipóteses. Selecionada e administrada uma bateria de testes, obtêm-se dados que devem ser interrelacionados com as informações da história clínica, da história pessoal ou com outras, a partir do elenco das hipóteses iniciais, para permitir uma seleção e uma integração, norteada pelos objetivos do psicodiagnóstico, que determinam o nível de inferências que deve ser alcançado. Tais resultados são comunicados a quem de direito, podendo oferecer subsídios para decisões ou recomendações.
Objetivos. O processo do psicodiagnóstico pode ter um ou vários objetivos, dependendo dos motivos alegados ou reais do encaminhamento e/ou da consulta, que norteiam o elenco de hipóteses inicialmente formuladas, e delimitam o escopo da avaliação. Portanto, relacionam-se essencialmente com as questões propostas e com as necessidades da fonte de solicitação e “determinam o nível de inferências que deve ser alcançado na comunicação com o receptor” (Cunha, 1996, p.50).
Contributo dos autores
Castel (1978, p.111), citando Fédere, alienista francês do século XIX, relata que em seu entendimento o [portador de transtorno mental] ¿não tem consideração por nenhuma regra, [...] desconhece-as todas; cujos discursos, posturas e ações estão sempre em oposição, [...] com o que existe de humano e de racional¿. (NOGUEIRA, 2009) Qual seria o critério de normalidade claramente esposado pelo texto acima?: O da normalidade como bem-estar. o da normalidade subjetiva; o da normalidade estatística; o da normalidade como um ideal; o da normalidade como um processo; Castel (1987) considera que se vive no bojo de uma nova cultura psicológica, em um movimento de superação da antipsiquiatria e pós-psicanálise. Atualmente, as técnicas médico-psicológicas já estariam ultrapassando as balizas clássicas do recorte do normal e do patológico, da problemática da prevenção e do tratamento, em direção a um processo de programação de si permanente. O que se visa na cultura psicológica não seria a prevenção nem a cura das disfunções, mas o autodesenvolvimento psicológico interminável do indivíduo. O mundo e a vida passam a ser compreendidos e interpretados como algo psicologicamente administrável e transformável, em um processo de psicologização crescente da totalidade da existência humana. A perspectiva cultural atual localiza e circunscreve na psicologia a plenitude da vocação social dos indivíduos: o objetivo seria então tratar o indivíduo normal e a sociabilidade comum.
Na origem dessa cultura psicológica, Castel (1987) detectou a desestabilização da psicanálise e sua dissolução em uma cultura psicanalítica de massa. A psicanálise teria dado caução teórica e técnica para a psicologia clínica e para outras profissões centradas na relação interpessoal e na ajuda (assistentes sociais, educadores, professores, pedagogos, advogados). Na grande nebulosa do psicológico, "estabeleceu-se um consenso para fazer da criança em relação ao homem, e da criança em cada homem, a chave de seu destino pessoal e o princípio explicativo essencial de sua história" (Castel, 1987, p.135). Se o fascínio pela psicanálise intensificou um interesse generalizado pela psicologia, transformando o discurso psicanalítico no principal codificador psicológico da existência humana, também retirou da psicanálise sua especificidade, banalizando-a enquanto denominador comum de um meio cultural.
As diferenças individuais: Francis Galton (1822-1911)
Galton aplicou efetivamente o espírito da evolução à Psicologia com o seu trabalho sobre os problemas da herança mental e das diferenças individuais na capacidade humana. Antes dos esforços de Galton, o fenômeno das diferenças individuais não tinha sido considerado um objeto de estudo necessário na Psicologia, o que era uma séria omissão. Só uma poucas tentativas isoladas tinham sido feitas, principalmente por Weber, Fechner e Helmholtz, que tinham relatado diferenças individuais em seus resultados experimentais, mas não as tinham investigado de modo sistemático. Wundt e Titchener, por sua vez, não as consideravam parte da Psicologia. Tal como muitos dos pensadores da época, Galton acreditava que a "raça" humana poderia ser melhorada caso fossem evitados "cruzamentos indesejáveis". O objetivo de Galton era incentivar o nascimento de indivíduos mais notáveis ou mais aptos na sociedade e desencorajar o nascimento dos inaptos. Propôs o desenvolvimentos de testes de inteligência para selecionar homens e mulheres brilhantes, destinados à reprodução seletiva. Teve também uma grande importância na criação de métodos estatísticos e foi Galton quem deu origem ao conceito de testes mentais (de inteligência), testando as habilidade motora e a capacidade sensorial de indivíduos. Estudou a diversidade e o tempo necessário para a produção de associações de ideias.
Binet
É a partir de 1900, que Alfred Binet, psicólogo francês, influencia os estudos de mensuração das diferenças individuais, até então influenciado por Galton. Seus trabalhos são bastante procurados, principalmente nos Estado Unidos e na Inglaterra. Dedicou-se à psicopatologia e superou o associacionismo, pois não conseguia explicar as personalidades dissociadas, e por verificar que na criança há uma percepção anterior às partes, desta maneira tantos os estudos qualitativos, quanto os estudos quantitativos das diferenças individuais, deve interessar-se não pelos processos mentais, mas pelos processos mais complexos4, isto é, estabelecer a extensão e a natureza das variações interindividuais dos processos mentais na determinação da interrelação intraindividuais dos processos mentais. (Freeman, 1962; Rosenfeld, 1988; Schultz e Schultz, 1995).
Origem e Avaliação Psicodiagnostico – Outros
Para que entendamos melhor o que significa o Psicodiagnóstico precisamos saber um pouco sobre o diagnóstico e avaliação diagnóstica. De acordo com a Wikipédia (ANO), a palavra diagnóstico origina-se do grego diagõstikós e significa conhecimento (efetivo ou em confirmação) sobre algo, ao momento do seu exame; ou descrição minuciosa de algo, feita pelo examinador, classificador ou pesquisador; ou ainda juízo declarado ou proferido sobre a característica, a composição, o comportamento, a natureza etc. de algo, com base nos dados e/ou informações deste obtidos por meio de exame, ou seja, discernimento, faculdade de conhecer. Utiliza-se este termo para referir-se à possibilidade de conhecimento que vai além daquela que o senso comum pode dar, ou seja, a possibilidade de significar a realidade fazendo uso de conceitos, noções e teorias científicas.
Segundo Ancona-Lopez (2002), Psicodiagnóstico pode ser conceituado como: Um processo de intervenção; Intervir é meter-se de permeio, estar presente, assistir, interpor os seus bons ofícios; Meter-se de permeio indica a atuação, posição ativa de alguém que interfere, que se coloca entre pessoas, que de algum modo estabelece um elo, uma ligação; Estar presente parece indicar uma posição, alguém a quem se pode recorrer e que está inteiro na situação; Assistir indica ajudar, cuidar, apoiar;
Interpolar os seus bons ofícios indica ação de quem tem algum preparo em determinada área e põe seus conhecimentos à disposição de quem dele necessita ou ação de quem acredita no que faz. Quanto à avaliação diagnóstica, podemos dizer que ela é mais ampla que o psicodiagnóstico, e seus objetos de estudo podem ser um sujeito, um grupo, uma instituição, uma comunidade; daí a importância dos trabalhos interdisciplinares já que o objeto a avaliar é sempre um sistema complexo, integrado por subsistemas diversos: como o biológico, psicológico, social, cultural, em interação permanente. Percebemos que o Psicodiagnóstico é apenas uma parte da avaliação diagnóstica.
O Psicodiagnóstico derivou da Psicologia Clínica, introduzida, segundo Cunha (2003) por Lighter Witmer em 1896, e criada sobre a tradição da psicologia acadêmica e da tradição médica. Mas de acordo com Fernández-Ballesteros (1986), a paternidade do psicodiagnóstico também é atribuída a três autores, que deram os primeiros passos nos estudos sobre Psicodiagnóstico lançados no final do século XIX e no início do século XX:
Galton, que introduziu os estudos da diferenças individuais;
Cattell, a quem se devem as primeiras provas chamadas de testes mentais;
Binet, que propôs a utilização dos exames psicológicos por meio de medidas intelectuais.
O Psicodiagnóstico surgiu como consequência do advento da psicanálise , que ofereceu novo enfoque para o entendimento e a classificação dos transtornos mentais; anteriormente, o modelo para o estudo das doenças mentais remontava ao trabalho de Kraepelin e outros, e as suas tentativas para estabelecer critérios de diagnóstico diferencial para a esquizofrenia. Como discutiremos logo adiante, no período anterior a Freud, o enfoque do transtorno mental era nitidamente médico, onde os pacientes de interesse para ciência médica apresentavam quadros graves, estavam hospitalizados, e eram identificados apenas sinais e sintomas que compunham as síndromes. Mas já no período Freudiano, os pacientes atendidos não apresentavam quadros tão severos, não estavam internados, e embora fossem levados em conta os seus sintomas, estes eram percebidos de maneira compreensiva e dinâmica.
Ocampo (1981) faz um panorama sobre alguns modelos que seguiu o processo de psicodiagnóstico ao longo do tempo: Modelo Médico: aqui é sintetizada a distância do paciente, a falta de identidade do psicólogo, onde o mais importante seria aplicar testes e mandar relato a outro profissional. Modelo da Psicanálise: marco de referência, influência no estudo da personalidade, mas é diferente pela sua metodologia própria. Diagnóstico de tipo compreensivo: o importante aqui seria encontrar sentido, relevância e significativo e entrar em contato.
Diagnóstico interventivo: aqui, segundo Ancona-Lopes (1984), seria enfatizada a impossibilidade de separação entre as fases de avaliação e intervenção.Até algum tempo o processo Psicodiagnóstico era considerado, como uma situação em que o psicólogo apenas aplicava testes em alguém. De acordo com Ocampo (1981), ele então cumpria uma solicitação seguindo os passos e utilizando os instrumentos indicados por outros profissionais, quase sempre da área médica (psiquiatra, pediatra, neurologista). Assim, o psicólogo atuava como alguém que aprendeu a aplicar testes e esperava que o paciente colaborasse.
Percebe-se que as origens da avaliação psicológica e do Psicodiagnóstico se deram sob uma tradição da medicina e da psicologia  acadêmica, de orientações tanto comportamentalistas ou psicanalistas, predominantemente, que seguiam estratégias de avaliação comportamental, ou seja, identificação de comportamentos-alvo, ou por uma orientação conceitual buscando uma visão de homem específica, segundo as diretrizes de uma comunidade acadêmica. Assim, percebemos a ênfase dada ao aspecto do sujeito em sofrimento, disfuncional ou em desajuste com um ideal de saúde e normalidade. Além do que citamos anteriormente, a avaliação psicológica perpassaria também a psicometria, que tinha como métodos principais a aplicação de testes psicológicos estruturados ou de testes projetivos. Não esquecendo também no percurso dessas origens o uso de entrevistas psicológicas, herdada pela psiquiatria. Cunha (2003) deixa claro que tanto o uso de testes quanto o de entrevistas dirigidas para a identificação de sinais e sintomas seriam enfatizados, voltados para uma perspectiva de saúde dissociada da doença ou do psicopatológico.
Psicodiagnóstico do francês psychodiagnostic e do inglês psychodiagnosis significa um diagnóstico fundamentado no estudo dos sintomas puramente psíquicos de um doente mental. Esse diagnóstico psicológico busca uma forma de compreensão situada no âmbito da Psicologia, sendo uma das funções exclusivas do psicólogo garantidas pela Lei nº 4119 de 27/08/62, que dispõe sobre a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.A seguir, apresentaremos um breve histórico pra que se entenda melhor como se deram os principais acontecimentos que originaram a Avaliação Diagnóstica ou mais especificamente o Psicodiagnóstico, de acordo com Alchieri e Cruz (2004):
1836 –1930: período em que houve muitas produções médico-científicas e acadêmicas;
1905: Binet apresentou o teste de inteligência;
1906: Jung com o teste de associação de palavras;
1921: Hermann Rorschach publicou seu teste de manchas de tinta;
1930-1962: estabelecimento e difusão da psicologia no ensino das universidades;
1960: a Psicologia se caracteriza pela regulamentação dos cursos de formação (graduação) e a consequente expansão do ensino de psicologia no Brasil.
1962-1970: criação dos cursos de graduação em psicologia; mais exatamente em 1962, há a regulamentação da profissão por meio da lei nº4119;
1970-1987: implantação dos cursos de pós-graduação;
1974: criação do Conselho Federal de Psicologia e dos Conselhos Regionais de Psicologia pela Lei 5.766;
1987: emergência dos laboratórios de pesquisa em avaliação psicológica.
ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO:
As sementes da Avaliação Psicológica
O fim do século XIX e o início do século XX.
Inauguração do uso de testes psicológicos.

Imagem do leigo sobre o profissional psicólogo.

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