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As diferenças individuais: Francis Galton (1822-1911)




As diferenças individuais: Francis Galton (1822-1911)

            Galton aplicou efetivamente o espírito da evolução à Psicologia com o seu trabalho sobre os problemas da herança mental e das diferenças individuais na capacidade humana. Antes dos esforços de Galton, o fenômeno das diferenças individuais não tinha sido considerado um objeto de estudo necessário na Psicologia, o que era uma séria omissão. Só uma poucas tentativas isoladas tinham sido feitas, principalmente por Weber, Fechner e Helmholtz, que tinham relatado diferenças individuais em seus resultados experimentais, mas não as tinham investigado de modo sistemático. Wundt e Titchener, por sua vez, não as consideravam parte da Psicologia.


A vida de Galton
Francis Galton era dotado de uma inteligência extraordinária (um QI estimado em 200) e de grande profusão de idéias novas. Ele talvez não tenha igual na história da Psicologia Moderna. Sua curiosidade criativa e seu gênio o fizeram tratar de uma variedade de problemas, cujos detalhes ele deixava para os outros preencherem. Entre as áreas que investigou, estão as impressões digitais (que a força policial logo adotou para fins de investigação) a moda, a distribuição geográfica de beleza, o levantamento de peso e a eficácia da oração. Para esse homem versátil e inventivo, pouca coisa era desprovida de interesse.
            Nascido em 1822 perto de Birmingham, Inglaterra, era o mais novo de nove filhos. Seu pai era um próspero banqueiro cuja família rica e socialmente proeminente incluía pessoas importantes nas principais esferas de influência: o governo, a Igreja e a corporação militar. Desde cedo, Galton tinha familiaridade com pessoas influentes devido às ligações de sua família. Aos dezesseis anos, por insistência do pai, Galton começou a estudar medicina como aluno tutelado do Hospital Geral de Birmingham. Foi aprendiz dos médicos, receitou pílulas, estudou compêndios de medicina, gessou fraturas, amputou dedos, extraiu dentes, vacinou crianças e ainda conseguiu se divertir lendo os clássicos, principalmente Horácio e Homero. De modo geral, essa não era uma experiência agradável, e ele só permaneceu ali devido à pressão do pai.
            Um incidente ocorrido durante seu aprendizado médico ilustra sua incansável curiosidade. Desejando saber por si mesmo os efeitos dos vários medicamentos da farmácia, Galton começou a tomar pequenas doses de cada um, principiando, de modo sistemático, com os classificados com a letra “A”. Esse empreendimento científico terminou na letra “C”, quando ele tomou uma dose de óleo de cróton, um forte laxante.
            Depois de uma não no hospital, Galton continuou sua educação médica em King’sCollege, de Londres. Uma não depois mudou de planos e matriculou-se no Trinity College, da Universidade de Cambridge, onde, com um busto de Isaac Newton diante de sua lareira, deu asas ao seu interesse pela matemática. Embora o seu trabalho tenha sido interrompido por um severo colapso mental, ele conseguiu graduar-se. Voltou a estudar medicina, o que agora muito o desagradava, mas a morte do pai o libertou dessa profissão.
            As viagens e as explorações chamavam a atenção de Galton. Ele foi ao Sudão em 1845 e ao Sudoeste Africano em 1850, ano em que inventou um teletipo. Publicou relatos de suas viagens e recebeu uma medalha da Sociedade Geográfica Real. Na década de 1850, parou de viajar, por causa do casamento e da saúde frágil, disse ele, mas conservou seu interesse pelas explorações e escreveu um guia chamado The Art of Travel (A Arte de Viajar). Organizou expedições para outros exploradores e fez palestras sobre a vida no acampamento para soldados treinados para a guerra do Criméia. Seu espírito irrequieto o levou a meteorologia e projetar instrumentos de registro de dados do tempo. Resumiu suas descobertas num livro considerado a primeira tentativa de mapeamento extenso de padrões do tempo.
            Quando seu primo Charles Darwin publicou A Origem das Espécies, Galton voltou imediatamente sua atenção para a nova teoria. De início, o aspecto biológico da evolução o cativou, e ele fez uma pesquisa sobre os efeitos das transfusões de sangue entre coelhos para determinar se as características adquiridas podiam ser herdadas. Embora o aspecto genético da teoria não o interessasse por muito tempo, suas implicações sociais orientaram o trabalho subseqüente de Galton e determinaram sua influência sobre a psicologia moderna.


A Herança Mental

            O primeiro livro de Galton que teve importância para a psicologia foi Hereditary Genius (Gênio Hereditário), publicado em 1869. Nele, Galton procurou demonstrar que a grandeza individual ou gênio ocorria com uma freqüência demasiado grande no interior de famílias para ser explicada por influências ambientais. Sua tese é, em resumo, que homens eminentes têm filhos eminentes. Em sua maior parte, os estudos biográficos relatados no livro eram pesquisas sobre a ancestralidade de pessoas importantes como cientistas e médicos. Seus dados revelaram que toda pessoa famosa herdava não apenas o gênio como uma forma específica de genialidade. Por exemplo, um grande cientista nascia numa família que alcançara proeminência na ciência.
            O objetivo último de Galton era encorajar o nascimento de indivíduos mais eminentes ou capazes e desencorajar o nascimento dos incapazes. Para ajudar a atingir essa meta, ele fundou a ciência da eugenia ( a ciência que trata dos fatores capazes de aprimorar as qualidades hereditárias da raça humana), afirmando que os seres humanos, assim como os animais, podiam ser aperfeiçoados por seleção artificial. Ele acreditava que, se homens e mulheres de talento considerável fossem selecionados e acasalados por sucessivas gerações, seria produzida uma raça de pessoas altamente dotadas. Propunha Galton que se desenvolvessem testes de inteligência a ser usados na escolha dos homens e mulheres mais brilhantes para o acasalamento seletivo, recomendando que quem alcançasse os níveis mais altos nos testes devia receber incentivos financeiros para se casar e ter filhos. (É interessante o fato de Galton, que fundou a eugenia e acreditava que só as pessoas muito inteligentes deviam se reproduzir, não ter tido filhos. Ao que parece, o problema era genético; nenhum dos seus irmãos os teve.)
            Ao tentar verificar sua tese eugênica, Galton envolveu-se em problemas de medida e estatística. Em Gênio Hereditário, ele aplicara conceitos estatísticos aos problemas da hereditariedade e classificara os homens célebres da sua amostra em categorias, segundo a freqüência com que o seu nível de aptidão ocorria na população. Ele descobriu que homens eminentes têm maior probabilidade de gerar filhos eminentes do que os homens comuns. Sua amostra consistia em 977 homens famosos, cada um deles tão notável que a proporção era de 1 para 4000. Aleatoriamente, esperava-se que o grupo tivesse apenas um genitor proeminente; em vez disso, havia 332. A probabilidade de eminência em certas família era elevada, mas não o suficiente para que Galton considerasse seriamente alguma possível influência de um ambiente superior, de educação ou de oportunidades, oferecidos aos filhos das família notáveis por ele estudadas. A eminência, ou a sua falta, era uma função de hereditariedade, alegava ele, e não de oportunidade.
            Galton escreveu English Men of Science (Homens de Ciência Ingleses), em 1874, e Natural Inheritance (Herança Natural), em 1889, além de mais trinta artigos sobre problemas de hereditariedade. Seu interesse por esse assunto, começara pelo indivíduo e pela família, abarcou a raça humana como um todo. Galton fundou a revista Biometrika em 1901, estabeleceu o Laboratório de Eugenia no University College de Londres, em 1904, e fundou uma organização para a promoção da idéia do aprimoramento racial; tudo isso existe ainda hoje.


Os Métodos Estatísticos

            Assinalamos o interesse de Galton pelas medidas e pela estatística. Ao longo de sua carreira, ele nunca parecia plenamente satisfeito com um problema até descobrir alguma maneira de quantificar os dados e analisá-los estatisticamente. Ele não se limitou a aplicar métodos estatísticos; também os desenvolveu.
            Um estatístico belga, Adolph Quetelet, tinha sido o primeiro a aplicar a dados biológicos e sociais métodos estatísticos e a curva normal de probabilidade. A curva normal fora usada em trabalhos sobre a distribuição de medidas e erros na observação científica, mas o princípio da distribuição normal só veio a ser aplicado à variabilidade humana quando Quetelet demonstrou que medidas antropométricas de amostras aleatórias de pessoas geravam tipicamente uma curva normal. Ele mostrou que medidas da estatura de dez mil sujeitos de aproximavam da curva normal de distribuição, e usou a frase l´homme moyen (o homen médio) para exprimir a descoberta de que a maioria dos indivíduos se aglomera em torno da média ou centro de distribuição, e que um número cada vez menor vai sendo encontrado à medida que nos aproximamos dos extremos.
            Galton ficou impressionado com os dados de Quetelet e supôs que resultados semelhantes poderiam ser encontrados para características mentais. Ele descobriu, por exemplo, que as notas dadas em exames universitários seguiam a mesma distribuição da curva normal dos dados de medida física de Quetelet. Devido à simplicidade da curva normal e à sua coerência em inúmeros traços, Galton propôs que um grande conjunto de medidas ou valores de características humanas poderia ser significativamente definido e resumido por dois números: o valor medo da distribuição ( a média) e a dispersão ou gama de variação em torno desse valor médio (o desvio padrão).
            A obra de Galton na estatística produziu uma das mais importantes medidas da ciência, a correlação. O primeiro relato sobre o que ele denominou “co-relações” apareceu em 1888. As técnicas modernas de determinação da validade e da confiabilidade de testes, bem como os métodos de análise fatorial, são resultados diretos da descoberta, por Galton, da correlação, produzida quando ele observou que as características herdadas tendem a regredir na direção da média. Por exemplo, ele observou que os homens altos não são, em média, tão altos quanto os pais, enquanto os filhos de homens de homens muito baixos são, em média, mais altos do que os pais. Ele concebeu o meio gráfico de representar as propriedades básicas do coeficiente de correlação e desenvolveu uma fórmula de cálculo, hoje em desuso.
            Galton aplicou o método da correlação a variações de medidas físicas, demonstrando, por exemplo, uma correlação entre a altura do corpo e o comprimento da cabeça. Com o estímulo de Galton, seu aluno Kari Pearson desenvolveu a fórmula matemática usada ainda hoje para o cálculo do coeficiente de correlação, chamada de coeficiente de correlação do produto-momento de Pearson. O símbolo do coeficiente de correlação, r, vem da primeira letra da palavra regressão, em reconhecimento à descoberta de Galton da tendência de as características humanas herdadas regredirem na direção da média ou mediana. A correlação é uma ferramenta fundamental das ciências sociais e do comportamento, bem como da engenharia e das ciências naturais. A partir da obra pioneira e Galton, foram desenvolvidas muitas outras técnicas estatísticas.


Os Testes Mentais

            Com o desenvolvimento de testes mentais específicos, Galton pode ser considerado o primeiro clínico da psicologia. Diz-se que ele criou os testes mentais, embora o termo venha de James McKeen Cattell, um seu discípulo americano e ex-aluno de Wilhelm Wundt. Galton começou supondo que a inteligência podia ser medida em termos das capacidades sensoriais da pessoa – ou seja, quanto maior a inteligência, tanto maior o nível de discriminação sensorial. Ele derivou essa suposição da concepção empirista de John Locke, segundo a qual todo o conhecimento é adquirido através dos sentidos. Se isso é verdade, concluiu Galton, “os indivíduos mais capazes têm os sentidos mais aguçados. O fato de os idiotas mais rematados costumarem ter deficiências sensoriais parecia confirmar essa linha de pensamento” (Loevinger, 1987, p.98).
            Galton precisou inventar os aparelhos com os quais pôde tomar, rápida e precisamente as medidas sensoriais para uma grande quantidade de pessoas. Com engenho e entusiasmo típicos, concebeu vários instrumentos. Para determinar a mais alta freqüência de som capaz de ser ouvida, inventou um apito, que testou em animais e em pessoas. (Ele gostava de percorrer o zoológico de Londres com o apito fixado na parte inferior de uma bengala oca; esfregava uma ampola de borracha na parte superior e observava as reações dos animais.) Esse apito de Galton, em forma aperfeiçoada, foi um equipamento-padrão do laboratório de psicologia até ser substituído, nos anos 30, por um aparelho eletrônico mais sofisticado.
            Outros instrumentos incluíram um fotômetro para medir a precisão com a qual u sujeito poderia igualar duas manchas de cor, um pêndulo calibrado para medir o tempo de reação a sons e luzes, uma série de pesos a serem dispostos em ordem de grandeza para medir a sensibilidade cinestésica, uma barra com uma escala variável de distâncias para testar a estimativa da extensão visual e conjuntos de garrafas contendo diferentes substâncias para testar a discriminação olfativa. A maioria dos teste de Galton serviu de protótipo para o equipamento-padrão dos atuais laboratórios.
            De posse dos seus novos testes, Galton começou a reunir grande número de dados. Fundou o seu Laboratório Antropométrico, em 1884, na Exposição Internacional de Saúde, levando-o mais tarde para o Museu de South Kensington, em Londres. O laboratório esteve em atividade por seis anos, período durante o qual Galton coligiu dados de mais de nove mil pessoas. Os instrumentos de medida antropométrica ficavam sobre uma longa mesa na extremidade de uma sala estreita. Pagando uma entrada de três pence, a pessoa podia passar pela mesa e ser medida por um assistente que registrava os dados num cartão. Além das medidas acima assinaladas, obtinham-se informações sobre a altura, o peso, a capacidade torácica, a força de impulsão e de compressão, a rapidez de sopro, a audição, a visão e o sentido cromático. O objetivo desse programa de testes em larga escala era definir a gama das capacidades humanas. Galton esperava testar toda a população britânica para determinar o nível exato dos recursos mentais coletivos.
            Um século mais tarde, um grupo de psicólogos dos Estados Unidos analisou os dados de Galton (Johnson et al., 1985). Eles encontraram substanciais correlações teste-reteste, indicando que os dados tinham consistência estatística. Além disso, esses dados forneciam informações úteis sobre tendências de desenvolvimento durante a infância, a adolescência e a maturidade da população testada. Medidas como peso, alcance do braço, capacidade respiratória e força de compressão revelaram um padrão semelhante ao verificado no desenvolvimento dessas capacidades tal como relatado na literatura psicológica mais recente; a exceção fica por conta do fato de a taxa de desenvolvimento da época e Galton parecer ligeiramente mais lenta. Assim, os psicólogos concluíram que os dados de Galton continuam a ser instrutivos em nossos dias.


A Associação

            Galton trabalhou em dois problemas na área da associação: a diversidade das associações de idéias e o tempo necessário à produção de associações. Um dos métodos de estudo da diversidade das associações usados por Galton foi caminhar 450 jardas em Pall Mall, rua de Londres que fica entre a Praça de Trafalgar e o Palácio de St. James, concentrando sua atenção num objeto até que ele sugerisse uma ou duas idéias associadas. Na primeira vez que tentou isso, ficou surpreso com o número de associações advindas dos quase trezentos objetos que vira. Galton descobriu que muitas dessas associações eram lembranças de experiências passas, incluindo incidentes há muito esquecidos. Refazendo o percurso dias depois, encontrou uma considerável repetição das associações evocadas na primeira caminhada. Isso diminuiu muito seu interesse pelo problema, e ele se voltou para os experimentos do tempo de reação, que produziam resultados mais úteis.
            Para esses experimentos, Galton  preparou uma relação de setenta e cinco palavras, escrevendo cada uma numa tira separada de papel. Depois de uma semana, olhou uma de casa vez, e usou um cronômetro para registrar o tempo necessário à produção de duas associações para cada palavra. Muitas das associações eram palavras simples, mas muitas lhe surgiram como imagens ou quadros mentais cuja descrição requeria várias palavras. Sua tarefa seguinte foi determinar a origem dessas associações. Ele descobriu que cerca de 40% remontava a eventos de sua infância e adolescência. Esta pode ser considerada uma das primeiras demonstrações de influência das experiências infantis na personalidade adulta.
            Talvez de maior importância do que os resultados tenha sido o seu método experimental de estudo de associações. Sua invenção do teste de associação de palavras marcou a primeira tentativa de submeter a associação à pesquisa de laboratório. Wilhelm Wundt adaptou a técnica, limitando a resposta a uma única palavra, e a usou para pesquisas em seu laboratório de Leipzig. O analista Carl Jung  aperfeiçoou-a para seus próprios estudos de associação de palavras.
           

As Imagens Mentais

            A investigação feita por Galton das imagens mentais assinala o primeiro uso amplo do questionário psicológico. Pedia-se aos sujeitos que se recordassem de uma cena, como a da mesa do desjejum, e tentassem evocar imagens dela. Eles eram instruídos a indicar se as imagens eram tênues ou nítidas, claras ou escuras, coloridas ou não coloridas, etc. Para surpresa de Galton, o primeiro grupo de sujeitos, amigos cientistas seus, não relatou nenhuma imagem nítida! Alguns nem sequer tinham certeza sobre o que Galton falava ao referir-se a imagens. Recorrendo a sujeitos de capacidade mais mediana, obteve relatórios de imagens nítidas e distintas que muitas vezes eram cheias de cores e detalhes. Galton descobriu que as imagens de mulheres e crianças eram particularmente concretas e detalhadas. Investigando cada vez mais pessoas, descobriu que as imagens geralmente têm distribuição normal na população.
            Esse trabalho inaugurou uma longa linha de pesquisas sobre imagens, estudos que corroboraram em larga medida os resultados por ele obtidos. Tal como ocorria com boa parte de suas pesquisas, seu trabalho com as imagens tinha raízes na tentativa de demonstrar semelhanças hereditárias. Ele descobriu que a semelhança em termos de imagens é maior entre parentes do que entre pessoas sem parentesco.


Outros Estudos

            A riqueza do talento de Galton é patenteada pela variedade de suas pesquisas. Além dos importantes programas já discutidos, ele certa vez tentou colocar-se no estado mental dos loucos imaginando que todos ou tudo o que via enquanto passeava o estavam espionado. “Ao final do passeio matinal, cada cavalo parecia estar observando-o diretamente, ou, o que era igualmente suspeito, disfarçando sua espionagem ao não lhe prestar, de maneira sofisticada, nenhuma atenção” (Watson, 1978, pp. 328-329).
            Na época em que Galton viveu, era acirrada a controvérsia entre a teoria da evolução e a teologia fundamentalista. Com objetividade característica, ele pesquisou o problema e concluiu que, embora muitas pessoas tivessem intensas crenças religiosas, isso não constituía prova suficiente da validade dessas crenças. Ele discutiu o poder da oração em termos da produção de resultados e verificou que isso de nada servia aos médicos na cura dos paciente, nem aos meteorologistas na invocação de mudanças no tempo, ou nem sequer aos clérigos na condução de seus negócios cotidianos. Ele acreditava que, no tocante às relações com os outros ou em termos da vida emocional, pouca diferença havia entre pessoas que professavam uma crença religiosa e as que não o faziam. Esperava dar ao mundo um novo conjunto de crenças, estruturado em termos científicos, para substituir o dogma religioso. Ao seu ver, a meta a ser alcançada deveria ser, em vez de um lugar no céu, o desenvolvimento evolutivo de uma raça humana mais perfeita e mais nobre através da eugenia.
            Galton sempre parecia estar calculando alguma coisa. Ele ocupava o tempo em palestras e no teatro contando os bocejos e posturas irrequietas do público e descrevia esses resultados como uma medida do tédio. Enquanto era retratado, contou o número de pinceladas dadas pelo artista – umas vinte mil. Em certa ocasião, decidiu contar com odores, e não com números; treinando-se para esquecer os números, atribuiu valores numéricos a cheiros como o da cânfora e da hortelã-pimenta, e aprendeu a somar e subtrair pensando neles. Desse exercício intelectual resultou um artigo intitulado “Aritmética pelo Cheiro”, publicado no primeiro número da revista americana Psychological Review.


Comentário

            Galton passou apenas quinze anos pesquisando questões psicológicas, mas seus esforços nesse período relativamente curto influenciaram a direção que a nova psicologia iria tomar. Ele não era de fato mais psicólogo do que eugenista ou antropólogo. Era um indivíduo extremamente bem dotado cujo talento e temperamento não podiam ficar restritos a uma única disciplina. Basta considerar as áreas de pesquisa a que ele se dedicou, áreas pelas quais os psicólogos mais tarde se interessaram: adaptação, hereditariedade versus ambiente, comparação de espécies, desenvolvimento infantil, o método do questionário, técnicas estatísticas, diferenças individuais, testes mentais. Pelo alcance dos seus interesses e métodos, Galton influenciou a psicologia americana bem mais do que o fundador, Wilhelm Wundt.



Referências

Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Departamento de Psicologia
Disciplina: Métodos de Pesquisa em Psicologia II
Professora: Suely Vieira Lopes


SCHULTZ, Sydney Ellen; SCHULTZ, Duane P. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultriz, 1998.

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