OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E NÃO PARTICIPANTE, ENTREVISTA
APROFUNDADA
INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda sobre a observação
participante e não participante, entrevista aprofundada, tema de grande
interesse e importância para a nossa sociedade e o mundo em geral.
A observação participante é uma técnica de
investigação social em que o observador partilha, na medida em que as
circunstâncias o permitam, as atividades, as ocasiões, os interesses e os
afetos de um grupo de pessoas ou de uma comunidade (Anguera, Metodologia de la
observación en las Ciencias Humanas, 1985). É, no fundo, uma técnica composta,
na medida em que o observador não só observa como também tem de se socorrer de
técnicas de entrevista com graus de formalidade diferentes.
O objetivo fundamental que subjaz à utilização desta
técnica é a captação das significações e das experiências subjetivas dos
próprios intervenientes no processo de interação social. Como o observador tem
de se integrar num grupo ou comunidade que, em princípio, lhe é estranho, ele
sofrerá um processo de "ressocialização" (Anguera), tendo,
frequentemente, de aprender novas normas e linguagens ou gírias e de representar
novos papéis, o que coloca problemas particulares relativos à objetividade
científica. Por outras palavras, o investigador encontra-se numa tensão
permanente entre a necessidade de se adequar às características do grupo e a
necessidade de manter o necessário espírito crítico e a isenção científica.
Pode se dizer que a entrevista de profundidade
(in-depth) é definida como uma entrevista não-estruturada, direta, pessoal, em
que um respondente de cada vez é instado por um entrevistador altamente
qualificado a revelar motivações, crenças, atitudes e sentimentos sobre
determinado tópico (NOTESS, 1996). Neste processo o entrevistador inicia com
uma pergunta genérica, e posteriormente incentiva o entrevistado a falar
livremente sobre o tema (ex. O senhor poderia falar sobre fazer compras no
Supermercado Carrefour?). Por sua vez a duração pode variar de 30 a 60 minutos,
embora existam casos especiais que podem levar até mesmo horas, dada a natureza
do problema (CHAUVEL, 2000).
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E NÃO
PARTICIPANTE
A observação participante é um método qualitativo
com raízes na pesquisa etnográfica tradicional.
O termo foi
usado pela primeira
vez pelo antropólogo
social Bronislaw Malinowski na
década de 1920 e a abordagem foi posteriormente desenvolvida pela Escola de
Chicago sob a liderança de Robert Park e Howard Becker (Given, 2008, Mack et
alli, 2005). O método de
coleta de dados
na observação participante
consiste em que o
pesquisador participe de atividades cotidianas relacionadas a uma área da vida
social, a fim de estudar um aspecto de vida
por meio da observação de eventos
em seus contextos naturais (Given, 2008). Marietto (2011)
amparando-se em Maanen (1979, p.540) explica que essa abordagem permite ao
pesquisador (fieldworker) utilizar o contexto sociocultural do ambiente
observado (os conhecimentos socialmente adquiridos e compartilhados disponíveis
para os participantes ou membros deste ambiente) para explicar os padrões
observados de atividade humana. Ou seja, consiste na inserção do pesquisador no
interior do grupo observado, tornando-se parte dele, interagindo por longos
períodos com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que
significa estar naquela situação (Given, 2008; Queiroz et alli, 2007).
Em outra explicação,
Mac An Ghaill
(1994) argumentou que
o pesquisador, na Observação Participante, coleta dados por
meio da participação na vida cotidiana das pessoas que ele ou ela está
estudando. A abordagem está na interação cotidiana envolvendo conversas para
descobrir as interpretações dos participantes nas situações que estão
envolvidos, onde o objetivo da observação participante é produzir uma
"descrição densa" da interação social em ambientes naturais.
Ao mesmo tempo,
os informantes são
incentivados a usar
sua própria linguagem e
conceitos diários para
descrever o que
está acontecendo em
suas vidas esperando-se que
no processo emerja
uma imagem mais
adequada do contexto
de investigação como um
sistema social descrito
a partir de
uma série de
perspectivas dos participantes
(Marietto, 2011). O propósito da
observação participante é
obter uma compreensão
profunda de um tema ou situação particular através dos
significados atribuídos ao fenômeno pelos indivíduos que o
vivem e experimentam,
sendo especialmente adequada
para o estudo
de fenômenos sociais sobre
o qual pouco
se conhece e
onde o comportamento
de interesse não
está prontamente disponível para
visualização pública (Given,
2008, p.598).
Portanto, os
pesquisadores buscam compreender
o fenômeno por
meio da observação
por si só, ou
observando e participando, em diferentes graus, nas atividades diárias da
comunidade, grupo ou contexto estudado,
sendo que, em geral, a observação
participante ocorre em ambientes
comunitários ou em locais que se acredita ter alguma relevância para as
questões de pesquisa. O método é diferenciado porque o pesquisador se aproxima
dos participantes da pesquisa em seu
próprio ambiente, assim,
de um modo
geral, o pesquisador
envolvido na observação participante tenta aprender como é
a vida de um "nativo", mantendo-se, inevitavelmente, um
"estranho" (Mack et alli, 2005, p.13).
A observação participante completa constitui uma
estratégia de campo abrangente na medida
em que "combina
simultaneamente a análise
de documentos, entrevistas
aos participantes e informantes,
a participação direta,
a observação e
a introspecção".
Exemplificando, normalmente, os
pesquisadores da área
da antropologia combinam
seus dados com notas
de campo, observação
testemunhal, informações obtidas
a partir de informantes, entrevistas
informais e descrições
dos “nativos” ou
informantes, assim, o pesquisador
emprega múltiplas e
sobrepostas estratégias de
coleta de dados
a serem totalmente engajadas
em experimentar (sentir
ou vivenciar) o
arranjo contextual (a participação), enquanto
que, ao mesmo
tempo em que
observa e conversa
com outros participantes sobre o
que está acontecendo (Patton, 2002, p.265-266). Sobre o rigor e a validade científica dos trabalhos Malinowski
(1978, p.18) ressalta que:
(...) um
trabalho etnográfico só
terá valor científico
irrefutável se nos permitir distinguir claramente de um
lado, os resultados da observação direta e das declarações e interpretações
nativas e, de outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio
bom-senso e intuição
psicológica. (...) Na
etnografia, o autor
é, ao mesmo tempo, o seu próprio
cronista e historiador; suas fontes de informação são, indubitavelmente, bastante
acessíveis, mas também
extremamente enganosas e complexas;
não estão incorporadas
a documentos materiais
fixos, mas sim ao
comportamento e memória de seres humanos.
As
Competências e o Papel do Pesquisador na Observação Participante
Queiroz
et alli (2007,
p.279-280) lista algumas
das competências e
habilidades esperadas do pesquisador para a realização da observação
participante: • Ser capaz de estabelecer
uma relação de confiança com os sujeitos; •
Ter sensibilidade para pessoas; •
Ser um bom ouvinte; • Ter
familiaridade com as questões investigadas, com preparação teórica sobre o
objeto de estudo ou situação que será observada; • Ter flexibilidade para se adaptar a situações
inesperadas; • Não ter
pressa de adquirir
padrões ou atribuir
significado aos fenômenos observados; • Elaborar um
plano sistemático e
padronizado para observação
e registro dos dados; •
Ter habilidade em
aplicar instrumentos adequados
para a coleta
e apreensão dos dados; • Verificar e controlar os dados observados; e
• Relacionar os conceitos e teorias
científicas aos dados coletados.
Ainda, dentro das
competências e o
papel esperado do
pesquisador na Observação Participante, caracteriza-se o
tipo de observador que o pesquisador pretende desempenhar de acordo com a
tipologia de Gold (1958) mediante a intenção do grau de envolvimento que o
observador pretende tomar: Participante Completo – o pesquisador entra no
ambiente sem revelar qual é o seu objetivo ou mesmo sua identidade verdadeira
tentando tornar-se um dos membros rotineiros do
grupo, mantendo-se como
um observador disfarçado,
seu interesse científico
é completamente desconhecido do
grupo.
O
pesquisador é, de
certa forma, forçado
a desempenhar um papel
condizente com a
estrutura social do
grupo. Por exemplo,
um pesquisador que pretende observar as interações sociais de uma
torcida de um time de futebol interage com a mesma na forma de torcedor e não
se identificando como pesquisador. Participante como Observador - neste
contexto o pesquisador negocia e obtém um consentimento prévio do grupo para
poder observa-los e realizar o estudo. Ou seja, o grupo esta ciente da sua
presença e seus objetivos e com o passar do tempo tende a ser “aceito” pelo
grupo e com o aumento da confiança a pesquisa tende a se desenvolver com mais
eficácia. Como exemplo, temos o estudo de Marcon e Elsen (2000) relatado
abaixo.
Observador
como Participante –
Neste caso, o
observador tem envolvimento mínimo no contexto social
estudado. Existe algum tipo de conexão com o grupo ou contexto, mas o observador
não é naturalmente ou normalmente parte do ambiente social. Em geral, como
exemplo, temos as
pesquisas organizacionais, onde,
muitas vezes, o
pesquisador identifica-se
como tal, contudo
apenas observa o
andamento das rotinas
laborais sem envolver-se diretamente
nas mesmas como
observações feitas nas
áreas operacionais das organizações (produção) ou nos
acompanhamentos de reuniões do alto escalão.
Observador Completo – O pesquisador não participa de
nenhuma forma do contexto social do grupo. Como exemplo, observam-se estudos na
área da psicologia e psiquiatria em que
se observam o
comportamento social de
crianças interagindo através
de um vidro espelhado. A tipificação acima torna
evidente a diferença entre observador e participante durante o processo de
pesquisa. Alguns Exemplos Empíricos Para
sugerir alguns estudos que utilizaram a observação participante, Marietto
(2011) explicou que Branislaw
Malinowski utilizou-se deste
método para seus
estudos sobre os aborígenes
australianos na obra
“Os Argonautas do
Pacífico Ocidental” (1921).
Madeleine Grawitz (1993) define métodos como um
conjunto concertado de operações que são realizadas para atingir um oumais objectivos,
um corpo de princípios que presidem a toda uma investigação organizada, um
conjunto de normas que permitem seleccionar e coordenar as técnicas.
“A metodologia não substitui o investigador;
proporciona-lhe, no entanto, meios para empreender uma investigação”. (Bruno
Deshaies,1997)
Na observação não participante o investigador assume
o papel de observador exterior, não tomandoassim qualquer iniciativa no evoluir
das no evoluir das situações que observa. Este tipo de observação apresenta as
seguintes características:
·
por se realizar num ambiente
natural, fornece informação que é impossível obter num laboratório;
·
permite a percepção do não verbal
e daquilo que ele revela;
·
os sujeitos não sabem que estão a
ser observados;
·
permite observar uma situação
comoela realmente ocorre, sem existir qualquer interferência do investigador;
·
permite a recolha de
comportamentos e atitudes espontâneos;
·
No entanto a observação não
participante também oferece algumas desvantagens, tais como:
·
nem sempre são fáceis de
realizar;
·
pode não se ter acesso a dados
que poderão ser importantes;
ENTREVISTA APROFUNDADA
A entrevista em profundidade é uma técnica que a
usabilidade pegou emprestada da pesquisa de mercado. E que a pesquisa de
mercado aprendeu com a antropologia. Pode-se dizer, também, que a entrevista é
uma técnica jornalística que foi adaptada para a pesquisa de usabilidade. Ou
seria uma técnica utilizada pela psicologia e consequentemente pela área de
recursos humanos? Enfim: a entrevista é uma das mais antigas técnicas para
saber de uma pessoa coisas que ela sabe – e você não. Na pesquisa de
usabilidade, a entrevista é utilizada em várias metodologias e em diversos momentos
– na imersão e no início de um teste de usabilidade, por exemplo. Quando a
entrevista é realizada no campo, isto é, no contexto de uso da interface (na
casa, no escritório, no lugar em que o app é utilizado), chamamos de entrevista
contextual (assunto de um próximo post).
Pontos
importantes para uma boa entrevista:
·
Estude o entrevistado. Que perfil
de usuário ele representa, qual sua classe social; no caso de entrevistas em um
contexto corporativo, qual é o cargo dessa pessoa. Chegue com um entendimento
de quem ele é e o que ele faz, para não perguntar coisas muito básicas que o
farão desanimar já no início.
·
Prepare um roteiro para guiar a
conversa. Utilize como baliza, mas não tenha medo de sair dele. Entrevistas são
dinâmicas e fluidas, e as próximas perguntas devem ter relação com as respostas
anteriores.
·
No início das entrevistas, faça
perguntas que demonstrem que você conhece um pouco do assunto que está sendo
tratado. Mostre que estudou, e que é um interlocutor informado. Isso ajuda a
conquistar a confiança do entrevistado.
·
Por outro lado, você precisa
adequar sua linguagem e tipo de comunicação ao nível cultural do entrevistado.
Empatia é a primeira ferramenta de uma boa entrevista.
·
Cuide para não induzir respostas.
Criar uma frase e fazer o entrevistado concordar com você não é o mesmo que
ouvir a opinião dele.
·
Entrevistas em profundidade são
sempre individuais. Com mais de uma pessoa, perde-se a profundidade.
O capítulo 7 do livro Designing for the Digital Age,
de Kim Goodwin, tem dicas ótimas sobre como conduzir entrevistas.
A entrevista é uma metodologia que proporciona a
exploração do comportamento, hábitos, entendimento de necessidades, perfis e
contextos. A possibilidade de realizar uma entrevista é uma excelente
oportunidade para conhecer o seu usuário, mesmo quando ainda não há uma
interface. Sempre que possível, vá lá e entreviste!
Quando aplicada, a entrevista individual pode ser
classificada em três categorias distintas, em função do grau de estruturação do
guia de entrevista(3) utilizado pelo entrevistador (DELBÈS; GRAMONT, 1983 apud
MARCHETTI, 1995). A saber: entrevista não-estruturada; entrevista
semi-estruturada e entrevista estruturada. O fator comum nestas três categorias
de guia encontra-se em incorporar perguntas abertas, permitindo a quem está
respondendo fazê-lo a partir de suas opiniões e motivações. Devido a esse tipo
de questão, as perguntas são mais reveladoras, pois não se limitam às respostas
dos entrevistados (KOTLER, 2000), como é costume na investigação quantitativa.
CONCLUSÃO
Em suma, a observação participante é a técnica que possibilita
graus diversos de integração no grupo observado e de sistematização dos
procedimentos de recolha de informação, de acordo com os objetivos que o
investigador estabelece para a investigação, e adequa-se particularmente a
fenómenos ou grupos de reduzida dimensão, pouco conhecidos e/ou pouco visíveis,
como é o caso, por exemplo, de atividades que uma sociedade define como
ilícitas e às quais dificilmente se poderia aceder de outro modo.
Todavia, pelas suas próprias características, a
observação participante apresenta algumas vantagens, como o risco, sempre
presente, do investigador resvalar para a subjetividade, devido ao seu
envolvimento pessoal com o objeto, e a possibilidade da sua presença perturbar
o normal decurso da interação social (Burgess, In the field. An introduction to
field research, 1995).
A entrevista aprofundada tem como objetivo analisar
pontos chaves do acervo da Instituição, focando em sua estrutura, público e em
acervo significativo.
É necessário que o pesquisador reconheça que nem
sempre é conveniente utilizar métodos plenamente estruturados (formais) para
obter informações dos respondentes. Algumas pessoas podem não querer responder
a certas perguntas; ou, mesmo que sejam incapazes disso, o seu comportamento é
influenciado por fatores de que eles não têm consciência ou que eles
simplesmente não queiram mencionar diretamente em razão de certos mecanismos de
defesa (DICHTER, 1964 apud MARCHETTI, 1995). Além do mais, é importante que o
pesquisador não somente deixe o entrevistado o mais livre possível para
expressar suas opiniões, como também possua conhecimentos de psicologia e
lingüística (ou contratar profissionais com tal gabarito) para a análise dos
dados.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
observação participante in Artigos de apoio
Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-10-26
08:05:20]. Disponível na Internet: https://www. infopedia.pt/apoio/artigos/$observacao-participante.
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E NÃO PARTICIPANTE (PDF
Download Available). Available from:
https://www.researchgate.net/publication/301614548_
OBSERVACAO_PARTICIPANTE_E_NAO_PARTICIPANTE [accessed Oct 26 2017].
MARIETTO,
M. L. Observação
participante e não participante. Working Paper. São Paulo,
UNINOVE, 2014.
Entrevistas de Profundidade – O que é e como fazer? Disponível
em: http://marketing futuro.com/entrevistas-de-profundidade-o-que-e-e-como-fazer/.
ENTREVISTA APROFUNDADA. Disponível em: http://crufrj.wixsite.com/conservac
aointegrada/entrevista-aprofundada.
NAHRA, Alessandra. O que são as entrevistas em
profundidade. (03/03/2016, updated on 04/03/2016). Disponível em: http://www.saiba-mais.com/2016/03/03/o-que-sao-as-entrevistas-em-profundidade/.
Gostei. Bastante explicativo.
ResponderEliminarBom blooger
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